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Profissionais que cuidam da saúde humana lideram ranking de acidentes laborais

Médicos, enfermeiros e outros profissionais da área, são as principais vítimas das doenças ocupacionais, com 65 mil ocorrências anuais. Tema será pauta do principal congresso brasileiro de Medicina do Trabalho, de 16 a 19 de maio, em Foz do Iguaçu, promovido pela ANAMT.

 

Os profissionais da saúde – ironicamente aqueles que se dedicam a cuidar do bem-estar da população – lideram o ranking de acidentes laborais no Brasil. Ao ano, são mais de 65 mil ocorrências. Muitos desses médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos se submetem a uma carga horária exaustiva. Atuam em ambientes que favorecem a ocorrência de doenças infectocontagiosas, provocadas por agentes biológicos e pela contaminação.

 

A preocupação em torno do tema será amplamente discutida, durante o principal congresso da área, promovido pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), entre os dias 16 e 19 de maio, em Foz do Iguaçu. Um painel temático, no primeiro dia do evento, abordará o tema “Cuidando de quem cuida”, reunindo especialistas de renome nacional e internacional.

 

Para Rafael Torres, médico preceptor do Programa de Residência Médica em Medicina do Trabalho, Medicina Legal e Perícias Médicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, “as condições do trabalho e da saúde dos médicos são negligenciadas. “Há várias questões envolvidas nesta negligencia, desde a postura dos médicos, altamente resistentes aos exames periódicos, até aspectos da organização do trabalho com um número excessivo de horas trabalhadas, na maioria das vezes, de forma autônoma”, explica.

 

Culturalmente e socialmente, de forma intencional ou não, diz Torres, o profissional de saúde, “esquece” da própria saúde. “Somos ‘treinados’ para diagnosticar, medicar, aconselhar e prevenir doenças na população, e é sempre mais fácil analisar um caso quando não estamos envolvidos diretamente”.

 

Segundo Torres, as transformações sociais e econômicas têm influência sobre a maior incidência de doenças ocupacionais entre os profissionais de todos os setores, especialmente os da área de saúde, devido o aumento das horas trabalhadas e do número de vínculos. “A organização do trabalho e as relações entre o profissional e o meio, que está inserido, contribuem de maneira significativa para o adoecimento”, destaca.

 

Também fará parte do painel temático “Cuidando de quem cuida” o especialista em medicina do trabalho, Marcelo Pustiglioni. Ele trará o tema “As condições de trabalho e da saúde dos profissionais de saúde no setor público e no privado”. O médico faz um alerta sobre a falta de recursos para a saúde e o sucateamento dos serviços públicos de saúde, que acabam expondo os trabalhadores dos serviços de saúde a riscos biomecânicos e psicossociais, além de potencializar o risco biológico.

 

Principais acidentes – Os profissionais de enfermagem, seguido pelos médicos e estudantes (residentes e estagiários) são os grupos de trabalho mais expostos aos riscos. Entretanto, explica Pustiglioni, o pessoal da higienização e limpeza aparece nas estatísticas de maneira importante, porque refletem as falhas no descarte de material contaminado e porque, ao se acidentarem, é muito difícil identificar o paciente-fonte e isso complica muito a decisão de quimioprofilaxia.

 

Entre os principais acidentes de trabalho em serviços de saúde, o médico diz que, sem dúvida, são àqueles com exposição ao material biológico, particularmente sangue e secreções. Seja os veiculados por material perfurocortante, como agulhas e lâminas, seja por respingos em mucosas, como os olhos e a boca, ou soluções de continuidade na pele, como cortes e feridas.

 

Sensibilizar os gestores sobre a necessidade de implantação de ações de segurança e saúde no trabalho; capacitar o trabalhador quanto aos riscos ocupacionais e como se proteger e exigir que o governo faça a sua parte, que é, legislar e fiscalizar de maneira competente são os principais obstáculos e desafios a serem vencidos no sentido de propiciar ambientes saudáveis aos trabalhadores da saúde, apontados por Pustiglioni.

 

Fonte: ANAMT