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Pesquisa avalia saúde mental dos trabalhadores no contexto da Covid-19

Quase um ano depois do primeiro caso de Covid-19 registrado no Brasil, em 29 de fevereiro de 2020, o País e o mundo ainda se veem em uma situação preocupante. Com algumas vacinas sendo testadas e até sendo iniciada a aplicação em grupos populacionais como profissionais da saúde em alguns países, atualmente passamos por uma segunda onda de contaminação da doença. Em âmbito mundial, a Organização Mundial de Saúde contabiliza mais de 72 milhões de pessoas infectadas e mais de 1,6 milhão de óbitos. Ocupando a terceira posição neste triste ranking mundial, o Brasil soma 7 milhões de ocorrências da doença e quase 184 mil mortos.

Depois de tantos meses convivendo com o novo coronavírus, seja na “linha de frente” dentro das unidades da saúde, atuando remotamente ou nas empresas, trabalhadores têm a sua saúde mental afetada. A pesquisa ‘ProjeThos Covid-19 – Escuta do Trabalho, Humanização e Olhares sobre a Saúde no contexto da pandemia do novo coronavírus’ constatou que 60% estão se sentindo mais tristes e 58% com dificuldades de planejar o futuro.

Idealizado pela doutora em Psicologia Social e Institucional, Carmem Regina Giongo, o estudo busca relatos e vivências de trabalhadores durante a pandemia com ênfase em sua saúde mental. Iniciado em maio de 2020, ele é voltado a trabalhadores do Brasil e exterior que estejam atuando na “linha da frente” e/ou regime de teletrabalho, principalmente no segmento da educação.

Convidado a colaborar com a pesquisa, o psicólogo especializado em Psicologia Organizacional e do Trabalho, Bruno Chapadeiro Ribeiro, conta que também foram inclusos entre os respondentes estudantes e pessoas em situação de desemprego ou em formas de trabalho desregulamentadas e/ou com vínculos precários.

“OS PRINCIPAIS DADOS OBTIDOS INDICAM QUE AS PESSOAS ESTÃO TRABALHANDO MAIS DURANTE A PANDEMIA, DORMINDO MENOS OU IGUAL, COMENDO MAIS E SE SENTINDO MAIS CANSADAS. CERCA DE 86% ESTÃO MAIS PREOCUPADAS TAMBÉM. ALGUNS DOS SENTIMENTOS MAIS RELATADOS FORAM INSEGURANÇA, CANSAÇO, ESGOTAMENTO, DESMOTIVAÇÃO, INSATISFAÇÃO, CULPA, IMPOTÊNCIA E INCOMPETÊNCIA”, REVELA O PROFESSOR ADJUNTO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE PELA UMESP (UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO).

POSSIBILIDADES DE AÇÃO

Também perito judicial em saúde mental e trabalho, Chapadeiro menciona que, quando perguntados o que poderia ser feito para serem apoiados neste momento no trabalho, a maioria dos respondentes relatou necessidade de maior apoio da gestão/chefias. Assim como maior solidariedade, empatia e compreensão quanto ao momento, seguido de suporte, terapia/escuta e troca entre colegas. Sobre terem vivenciado alguma situação marcante em seu ambiente laboral durante a pandemia, muitos relatos apontaram o afastamento de colegas justamente por questões de saúde mental. “As consequências dessas situações para a saúde de trabalhadores envolvem desde sintomas gerais como medo, ansiedade, alterações de sono, apetite, drogadição até mesmo psicopatologias como Transtorno de Estresse Pós-Traumático, burnout, depressão, quadros ansiosos, dentre outros”, explica o psicólogo.

Para se evitar essas consequências, ele ressalta a necessidade de revisão da organização do trabalho, com a flexibilização das metas/prazos e a produtividade como um todo, além de alterações das condições e dos processos de trabalho, pensando-se, por exemplo, na ampliação de equipe devido ao aumento de demandas.

“TEMOS DESTACADO TAMBÉM A PROMOÇÃO DE ESPAÇOS DE FALA E ESCUTA A TRABALHADORES DENTRO DO AMBIENTE DE TRABALHO E/OU OUVIDORIAS COMO FORMA DE MINIMIZAR A OCORRÊNCIA DE ASSÉDIO MORAL OU DEMAIS VIOLÊNCIAS PSICOLÓGICAS COM AQUELE QUE ADOEÇA, SEJA POR TRANSTORNOS MENTAIS OU MESMO PELA COVID-19”, PONTUA CHAPADEIRO.

Ele menciona ainda a abertura de espaços para informações e psicoeducação para os funcionários sobre a pandemia e seus efeitos; a garantia de acesso aos Equipamentos de Proteção Individual e demais fatores de proteção; criação de comissões de monitoramento da saúde dos trabalhadores, entre outras ações.

A pesquisa segue em andamento. Interessados em participar podem responder ao formulário em https://bit.ly/37E6u0j.

Fonte: Revista proteção

Créditos da imagem: Diego Vara