Ao decidir me especializar em medicina do trabalho, recebi diversas críticas. Familiares, colegas médicos e outros alegavam, com seus diversos argumentos, que se tratava de uma subespecialidade.
Contudo, já havia sido fisgado. A pluralidade de matérias, debates, assuntos, conhecimentos e competências que envolvem este trabalho me fascinam. Mas ainda assim, ficou o questionamento: porque a sociedade (incluindo os colegas médicos) tinha essa visão da especialidade?
Já inserido no mercado de trabalho, pude perceber que também há grande insatisfação e mesmo desesperança dentre os médicos do trabalho. São queixas de que o trabalho é mal remunerado e de que os contratantes (representados pelas empresas) não entendem a importância de se cuidar da saúde e segurança dos trabalhadores.
Acredito que estas queixas são consequências diretas do comportamento que tivemos, como classe em geral, ao longo das últimas décadas. Estamos constantemente focados em cumprir leis, portarias, normas e resoluções. E deixamos em segundo plano a ciência médica. Assim, nosso trabalho passou a ser, predominantemente burocrático. Focado em produzir programas, documentos, arquivos, mas que não produzem resultados reais para as empresas ou para os trabalhadores. A figura do médico do trabalho se deteriorou à um personagem sem significância tanto para empregadores quanto para trabalhadores.
Para reverter este quadro, precisamos resgatar nossa origem. O primeiro médico do trabalho surgiu em 1830, durante a revolução industrial. O empresário do setor têxtil Robert Dernham colocou seu médico pessoal dentro da fábrica para verificar o efeito do trabalho sobre as pessoas e estabelecer as formas de prevenção. Somente em 1950, houve ação de organizações não governamentais visando a melhoria global das condições de trabalho. E a partir daí, governos passaram a editar suas leis e normas.
Mas tudo começou com uma demanda de mercado. Um empresário observou que trabalhadores doentes não produzem adequadamente. E não sejamos ingênuos. Qualquer empresa deseja alta produtividade. E não sejamos hipócritas. Qual o problema de se desejar alta produtividade?
No caso de a atuação dos médicos do trabalho garantir que os trabalhadores possam ter alta produtividade sem degradar sua saúde, alguém imagina que esse médico do trabalho não será reconhecido e bem remunerado. E qual empresário não iria desejar essa situação?
É baseado nestas questões que coloco um convite aos colegas. Retornemos a nos orientar pela nossa atuação técnica. Cumprir normas e leis nunca será o suficiente para se garantir um ambiente de trabalho saudável e seguro. Não devemos nos reduzir a meros cumpridores de leis. Devemos agir focados em garantir a saúde dos trabalhadores. Deste modo, as empresas serão mais produtivas. E assim, poderemos nos orgulhar da nossa atividade e adquiriremos o direito de sermos mais bem reconhecidos, e remunerados.
Este é o compromisso desta atual diretoria da AMIMT. Mostrar à toda sociedade civil, todo o potencial que existe em um bom médico do trabalho. E que em nossa jornada, consigamos transformar todo esse potencial em uma bela realidade.
Dr. Filipe Pacheco Lanes Ribeiro – Presidente AMIMT